Nos primeiros meses do ano, foi registrado um grande número de infecções de pele causadas por um verme pouco habitual: a micobactéria. Só no Rio de Janeiro, foram quase 400 casos, e há relatos de ocorrências nos estados de Goiás e Mato Grosso.
O surto atinge pacientes que passaram por algum tipo de cirurgia e, durante a operação, foram contaminados pela micobactéria, um microrganismo que vive no ambiente e só causa danos quando entra no corpo humano.
A infecção provoca lesões na pele e, em pacientes com a imunidade baixa, a bactéria pode atacar tecidos mais profundos.
Dos pacientes diagnosticados, 60% foram contaminados em cirurgias por laparoscopia, mas também houve casos de contágio em cirurgias plásticas.
Segundo Claudia Espanha, médica infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, investigações preliminares da Anvisa apontam como hipótese de causa mais provável a contaminação dos materiais e instrumentos, decorrente de falhas em uma das etapas do reprocessamento.
Micobactéria: inimigo silencioso do organismo
A infecção por micobactérias, apesar de não ser considerada de alta letalidade, apresenta um significativo impacto sobre a saúde dos indivíduos, exigindo um plano de abordagem articulado pelas secretarias estaduais de saúde, administrações hospitalares, laboratórios, pacientes, profissionais de saúde e outros envolvidos com a área.
A nota técnica Nº 02 /DEVEP/SVS/MS, publicada no site da Anvisa em 11 de abril de 2007, traz todas as recomendações para evitar o contágio, incluindo exames a serem realizados, tratamento e medidas de controle do surto.
Do que se trata esse surto?
Essas infecções da pele são mais frequentemente desenvolvidas em subcutâneo, e mais raramente em tecidos profundos após procedimentos realizados por vídeo-cirurgia. A infecção evolui com aspecto inflamatório crônico e granulomatoso, podendo formar abscessos, frequentemente com crescimento lento, podendo se manifestar até um ano após o ato cirúrgico.
Quem está conduzindo o processo de investigação e controle do surto? De que forma?
A investigação está sendo conduzida por profissionais da RENISS (Rede Nacional de Investigação de Surtos e Serviços de Saúde), com participação de integrantes das vigilâncias sanitária, epidemiológica e ambiental; da CECIH (Comissão Estadual de Controle de Infecção Hospitalar); da CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar); profissionais dos estabelecimentos de saúde e de pacientes expostos nos estados do Mato Grosso, Rio de Janeiro e Goiás, onde foram confirmadas as ocorrências de infecção por Mycobacterium abscessus, M. chelonae e M. fortuitum em pessoas submetidas a procedimentos invasivos.
Como a micobactéria entra e se desenvolve no organismo?
As espécies de micobactérias envolvidas neste surto são normalmente encontradas no ambiente, especialmente na água. A aquisição pode se dar por inoculação direta através de ferimentos. Quando é contraída em seguida a procedimentos cirúrgicos, não é possível saber exatamente como ocorreu a aquisição do patógeno. O período de Incubação pode levar de duas semanas a 12 meses.
Existe algum fator contribuindo para isso, como, esterilização inadequada do equipamento ou falta de profissionais habilitados para essa tarefa?
Segundo estudos preliminares da Anvisa, divulgados na nota técnica Nº 02 /DEVEP/SVS/MS, a hipótese de causa mais provável para o surto é a de contaminação dos materiais e instrumentos, decorrente de falhas em uma das etapas do reprocessamento.
Como é possível evitar o contágio? Qual o procedimento certo de esterilização de equipamentos cirúrgicos?
Nesta mesma nota técnica estão descritas as recomendações para controle do surto, visando à interrupção de novos casos.
Dependendo da constituição do equipamento cirúrgico, pode ser feita esterilização a vapor sob pressão(autoclave), vapor a baixa temperatura com formaldeído e esterilização a gás(gás óxido de etileno ou plasma de peróxido de Hidrogênio).
Quais os indícios de que o paciente pode ter sido infectado por micobactéria?
Se ele foi submetido a cirurgia vídeo-endoscópica ou plástica ou a outros procedimentos transcutâneos, apresentando infecções de pele e subcutâneas, como abscessos frios e ou piogênicos, com supuração crônica ou nódulos, com ou sem febre, e sem resposta ao tratamento antimicrobiano para agentes infecciosos habituais, há grande possibilidade de que tenha sido infectado por micobactéria.
Como é feito o diagnóstico?
Em caso de pacientes expostos aos procedimentos descritos acima, que apresentaram os sinais e sintomas citados em que, no mínimo, se identificou no estudo anátomo-patológico da peça ressecada, granuloma com ou sem necrose caseosa, são necessários três exames:
Baciloscopia: pesquisa de BAAR (Bacilo Álcool Ácido Resistente) em secreção. Habitualmente, o agente é identificado como um BAAR fortemente positivo.
Cultura: é de fundamental importância para a confirmação de que se trata de uma micobactéria de crescimento rápido, diferenciando-a da M. tuberculosis (agente da tuberculose). É também através da cultura que se faz o TSA (Teste de Suscetibilidade aos Antimicrobianos).
Anátomo-patológico: em caso de peça cirúrgica pós-ressecção, observam-se as alterações histopatológicas típicas de infecções por micobactérias. Todos os espécimes clínicos colhidos durante a ressecção cirúrgica devem ser preservados, parte em solução salina para realização da cultura, parte em formaldeído para o exame anátomo-patológico. Ultrassonografia e/ou Ressonância Magnética também são exames úteis na abordagem diagnóstica.
Existem centros de referência sobre o assunto?
Sim. O Centro de Referência Nacional para Tuberculose Prof. Hélio Fraga e o Hospital Raphael de Paula Souza, no Rio de Janeiro. No site da Anvisa há a lista dos centros de referência nacionais.
Como um laboratório deve proceder nesses casos?
No site da Anvisa, está disponível a Ficha de Notificação a ser preenchida pelo profissional de saúde e encaminhada à Coordenação Estadual de Controle de Infecção Hospitalar ou à Rede Nacional de Investigação de Surtos e Eventos Adversos em Serviços de Saúde.
No estado do Rio, todos os casos detectados em laboratórios devem ser notificados às Vigilâncias Epidemiológicas (VE) municipais e estaduais, com dados completos do paciente, utilizando a Ficha de Notificação disponível no site da Secretaria Estadual de Saúde. Além disso, os espécimes clínicos devem ser enviados ao LACEN do Rio de Janeiro/RJ, com cópia desta ficha de notificação do caso suspeito.
Qual o tratamento para essas infecções? Há acompanhamento laboratorial?
O paciente deverá ser submetido a tratamento prolongado com antibióticos e necessitará de abordagem cirúrgica para ressecção do granuloma. Em caso de mais de um local infectado, o tratamento após ressecção das lesões deverá ser prolongado por 9 meses. A recomendação detalhada para controle do surto está descrita na nota técnica Nº 02 /DEVEP/ SVS/MS. Durante o tratamento, são necessários acompanhamentos clínicos e exames de sangue mensais.
Mas para a equipe, o que vale é o reconhecimento da sua dedicação e a ajuda que uma análise de terceiros traz para a melhoria contínua. Sempre corremos o risco de ficar “viciados” na nossa rotina, na nossa forma de fazer algo, sem perceber algumas falhas e oportunidades de melhorar.
Qual o risco real que o paciente sofre?
Há sempre o risco de efeitos colaterais dos medicamentos de uso prolongado e uma cicatriz cirúrgica. Habitualmente, é uma infecção de baixa virulência e de curso indolente.
O que tem sido feito para alertar e informar a comunidade médica e os instrumentadores sobre esse problema?
Estão sendo realizados encontros das sociedades médicas envolvidas, além da publicação de normas técnicas.
Como os laboratórios poderiam ajudar no controle do surto?
Os laboratórios do Rio de Janeiro já estão orientados a notificar a Secretaria de Estado de Saúde em caso de identificação de micobacteriose do tipo não-tuberculosa. A ficha de notificação, que faz parte da RENISS, está disponível no site da Anvisa.
Há algum órgão responsável por fornecer informação atualizada sobre o surto?
Nos sites da Anvisa e da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro há todo um detalhamento sobre o assunto, elaborado pela Gerência de Investigação e Prevenção das Infecções e dos Eventos Adversos.
Como os órgãos públicos estão procedendo para controlar o surto?
A notificação de infecções por micobactérias às Secretarias Estaduais de Saúde é uma prática obrigatória, dada a necessidade de efetuar um controle de doenças como a tuberculose, que exigem tratamento acompanhado pelo Ministério da Saúde. Com a notificação dos casos recentes, no Rio de Janeiro, verificou-se que o número de ocorrências estava acima do normal, observando-se uma concentração maior em procedimentos de laparoscopia.
Foi montado, então, um Plano de Contingência da situação, com a parceria do Ministério da Saúde, das Vigilâncias Sanitárias estaduais e municipais, das Secretarias de Saúde, além de hospitais pólos de atendimento e laboratórios.
Desta forma, todos os pacientes vítimas desse tipo de infecção, mesmo os que foram operados por clínicas privadas, recebem medicamentos e acompanhamento médico nessas unidades-pólo de atendimento.
É esperado que este procedimento se repita em todos os estados de forma similar.
E o acompanhamento dos casos, como tem sido conduzido?
Semanalmente, os hospitais recebem uma lista fornecida pela Secretaria de Saúde com o nome das pessoas e dos hospitais onde foram realizadas as cirurgias, a fim de marcar a consulta para distribuir os medicamentos e acompanhar o caso na rede pública, com médicos infectologistas. Esse procedimento é imprescindível, por tratar-se de doença com tratamento prolongado e necessidade de um controle adequado.
Não existia, até então, um número tão grande de infecções por micobactéria. A SES concentra os dados para poder analisar melhor, e por isso tem se focado nesses pólos de atendimento para acompanhar de perto a evolução dos casos.
Mas é importante realçar a rapidez com que a Secretaria de Saúde atuou e a forma como os profissionais se organizaram, articulando-se rapidamente para oferecer tratamento eficaz a todos os infectados, sejam eles pacientes da rede pública ou privada.
A disseminação da informação entre os cirurgiões contou também com a ação das sociedades científicas relacionadas, que vêm atuando para debelar o surto.
Documentos e Informações
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA
Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro
RENISS e Centros de Referência
Nota técnica Nº 02 /DEVEP/SVS/MS de 11/4/2007 – Informes técnicos
Ficha de Notificação ANVISA de 7/3/2007 – informes técnicos
Ficha de Notificação do RJ – ações de saúde – controle de infecção hospitalar
Manual de Limpeza e Desinfecção de Aparelhos Endoscópicos – Sobeeg, MS, ANVISA
Mais uma ferramenta a sua disposição
A Controllab está sempre disponibilizando ferramentas e informações para seus clientes. E a novidade deste ano é o lançamento dos questionários ilustrados, muito mais dinâmicos e interessantes, com fotos, diagramas e outros recursos visuais.
Os usuários dos Controles de Qualidade Clínicos da Controllab sempre tiveram acesso gratuito a dois materiais educativos: casos por imagem e questionários. Se participassem de bioquímica, podiam responder aos questionários de bioquímica; se inscritos em hematoscopia, recebiam casos e questionários de hematologia, e assim por diante.
Agora, já podem ter acesso a uma nova versão, que integra imagens e formulação dos casos aos questionários.
As áreas abordadas foram ampliadas e a frequência adequada a interesse geral, nível de inovação e complexidade da área. Foram incluídos temas livres, abrindo espaço para assuntos gerenciais, como calibração, vigilância sanitária, qualidade da água, entre outros. E a melhor parte é que todos têm acesso a tudo, independente da inscrição.
Os questionários são formados por 15 questões e estão disponíveis para os segmentos clínico e veterinário. Uma rodada tem sempre dois questionários, revezando entre áreas mais comuns, específicas e temas livres.
Segundo Vinícius Biasoli, diretor executivo da Controllab, o mais interessante é o relatório final, que, além do perfil de resultados, traz um texto discursivo sobre o tema e as respostas aos comentários.
Para os usuários online, há ainda uma avaliação formal com o percentual de acerto do respondente de cada questionário.
Os primeiros questionários já foram respondidos e avaliados. Nosso primeiro desafio é ampliar o grupo assessor e disseminar, da melhor forma, o vasto conhecimento desses profissionais”, conclui Vinícius.
A ideia é estimular o aprimoramento profissional. E para aproveitar, é só participar.
A belíssima cidade de Salvador servirá de sede para o 41º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, em setembro, no Centro de Convenções da Bahia.
Contando com renomados palestrantes nacionais e internacionais, o evento promovido anualmente pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) será realizado de 4 a 7 de setembro, no Centro de Convenções da Bahia.
O encontro deste ano trará, como foco central, “Síndrome metabólica e endemias sul-americanas”.
Segundo Ulysses Moraes Oliveira, coordenador científico do congresso, a escolha se justifica por serem dois temas muito atuais, ligados diretamente com a longevidade das pessoas. “Dentro de síndrome metabólica discutiremos colesterol, triglicérides, diabetes, infarto, abordando uma ampla área do conhecimento. E as endemias sul-americanas estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano, com doenças como rotavírus e dengue, que envolvem um número muito grande de pacientes em toda a América do Sul”, explica.
Durante os quatro dias de Congresso, serão desenvolvidos cerca de 50 temas, com aulas que acontecerão simultaneamente em oito auditórios.
A programação científica está sendo cuidadosamente elaborada para oferecer aos participantes a oportunidade de reciclar os conhecimentos, confirmando o padrão de excelência da SBPC/ML em todas as suas realizações.
Informações detalhadas e atualizadas estão disponíveis no site do Congresso, onde também será possível fazer a inscrição.
Já está disponível, no site da Anvisa, o boletim eletrônico “Resistência Microbiana em Foco”, destinado a profissionais de saúde e demais interessados em se informar sobre o assunto.
Em sua primeira edição, o boletim traz os dados de perfil de sensibilidade dos patógenos prioritários da Rede Nacional de Monitoramento da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde – Rede RM.
Cadastre-se no site da Anvisa para receber as edições desse novo informativo. A assinatura é gratuita.
Endereço: www.anvisa.com.br, link “Boletins Eletrônicos”.
Brincadeira de gente grande
Eu sempre achei muito bonito, mas ainda não tinha me iniciado no aeromodelismo porque imaginava que seria difícil. Até que conheci algumas pessoas praticantes e decidi ir ao aeroporto assisti-los. Foi quando me encantei. Comprei um avião e um rádio com servo-comando, e hoje realizo, uma vez por semana, este meu sonho de criança.
ainda vou pilotar um avião de verdade. Tenho vários amigos que começaram com aeromodelismo e hoje já têm até brevê. Estou me preparando para tentar realizar mais esse desejo. Enquanto isso, vou treinando com as minhas miniaturas.